quinta-feira, 27 de maio de 2010

André Oliveira coloca pontos nos I's

O artigo de opinião de André Oliveira, antigo presidente da Associação Académica, vem pôr os pontos nos I's. No seu texto, realça a importância das tradições Académicas (nomeadamente a confusão que alguns fazem entre o simbolismo do traje e as referências clubísticas que o desvirtuam), criticando fortemente, tal como todos nós o fazemos , os acontecimentos sucedidos ao longo do último cortejo.

Pela sua importância, transcrevemos o artigo:

«Terminou mais uma edição da Queima das Fitas, festa centenária dos estudantes de Coimbra e ex-libris da cidade que nesta altura adquire um ambiente único e inconfundível.
As suas origens remontam a 1899, mas só a partir de 1919 as festas estudantis se tornaram regulares e adquiriram as características que conduziram ao actual formato. Interrompida em 1969, em consequência do luto académico, é retomada em 1980 por iniciativa da Direcção-Geral da Associação Académica, efeméride recentemente recordada por ocasião do 30º aniversário.
Se a Queima das Fitas é, indiscutivelmente, a festa dos estudantes de Coimbra, a capa e batina é, desde sempre, o traje do estudante de Coimbra.
O traje académico, cujas origens remontam ao sec. XVI, teve como objectivo distinguir a comunidade académica das demais classes e ofícios. Inspirado nas vestes eclesiásticas o seu uso foi obrigatório dentro da cidade para lentes e estudantes, obrigatoriedade restringida à Universidade quando da vitória do liberalismo e abolida com a implantação da República. A partir do final do sec. XIX a capa e batina deixa de ser um uniforme tornando-se um símbolo de honra, fraternidade, protecção mútua e um factor de igualização dos estudantes esbatendo eventuais diferenças socioeconómicas.
A Queima das Fitas, a capa e batina, a canção de Coimbra, a praxe e tantas outras tradições académicas integram um património histórico imaterial que nos honra e orgulha. Estas tradições devem ser preservadas, acarinhadas e transmitidas às gerações vindouras porque, como escreveu Einstein, "além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos".
Estas considerações vêm a propósito dos factos ocorridos no último cortejo da Queima das Fitas que devem ser veemente repudiados por todos aqueles que se revêem no incomparável legado histórico da academia e da Associação Académicas.
A irreverência estudantil, os exageros festivos, a descontracção excessiva, não podem confundir-se com falta de respeito pelo traje que envergam, pela instituição representativa dos estudantes, pela universidade e, até, pela própria cidade.
As opções dos estudantes sejam políticas, religiosas ou clubistas, são inalienáveis direitos de cidadania. Todavia, num estado de direito democrático aos direitos de cidadania contrapõem-se, também, deveres. A utilização por estudantes trajados de adereços de outras agremiações desportivas não representativas da academia constitui uma clara violação do código da praxe e, sobretudo, um enorme desrespeito pelo ancestral símbolo dos estudantes de Coimbra: a capa e batina.
É por isso que como estudante de Coimbra e antigo Presidente da Associação Académicas, apoio e subscrevo a petição intitulada "Por uma Capa e Batina Negra" que tem por objectivo promover uma reflexão no seio da academia sobre o uso da capa e batina.
Este ano a Queima das Fitas teve como lema "Momentos que passam, Saudades que ficam". Infelizmente, deste cortejo poucas saudades irão perdurar!»

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